Sunday, February 21, 2010

Ciúmes ou o macho na parede

Os pés, os dedos longos nas mãos pequenas, o cheiro da pele, o cabelo sempre à altura da nuca, o umbigo que eu mantinha limpo e são, a voz, o coração, os sentidos, tudo me pertencia, era meu. Os olhos dos outros para ela me feriam, os olhos dela para outros me rasgavam a pele, faziam-me dos ossos faca. Ela era minha, cada respiro, cada suor, cada gesto, cada sensação. Sua ignorância a fez rebelde, dona do corpo que era meu.

Sua incapacidade de perceber provocou-lhe lágrimas, revolta de menina por uma injustiça que era a mais justa. Agora outros a tocam, beijam, dão-lhe gozo, a tornam cada vez menos dona de si. Ela tem ainda um único dono e por isso agora é de ninguém, menos dela do que de todos. A minha posse se multiplicando por outras mãos na sua pele impura, no seu cheiro impuro, no seu sexo impuro que a tornam odiosa, impossível, intocável. Infeliz, sabe que lhe falta algo: ser objeto, coisa, um bem a se dispor.

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